"Os leilões de baterias vão revolucionar o Setor Fotovoltaico" - segundo a Dra. Marina Meyer
- Redação SNW.SOL

- 11 de nov.
- 4 min de leitura
Acompanhe a entrevista com Dr. Marina Meyer, Advogada especialista em regulação, contratos e modelagem de negócios no setor elétrico, conduzida por Léo Fornazieri - Coordenador do Grupo SNW

O setor elétrico global vive uma transformação profunda. As baterias e sistemas de armazenamento (BESS) estão se consolidando como protagonistas na transição energética, garantindo estabilidade, eficiência e independência da rede. No Brasil, as expectativas crescem com o avanço regulatório e o interesse de investidores e agentes públicos em estruturar leilões específicos para armazenamento. Conversamos com a Dra. Marina Meyer sobre as oportunidades e desafios desse novo mercado.
Léo Fornazieri: Dra. Marina, por que o armazenamento de energia se tornou um tema central no setor elétrico?
Dra. Marina: Porque o armazenamento é a ponte entre a geração renovável e a estabilidade do sistema. Ele resolve o maior desafio das fontes limpas — a intermitência — e permite que a energia solar e eólica sejam usadas quando o sol não está brilhando ou o vento não sopra. Países como os Estados Unidos e a China já tratam o armazenamento como infraestrutura crítica, e o Brasil está começando a trilhar esse mesmo caminho.
Léo Fornazieri: Quais são os exemplos mais relevantes no mundo que mostram o potencial dessa tecnologia?
Dra. Marina: Podemos citar o sistema de 300 MW instalado na Califórnia, que ajuda a equilibrar a rede elétrica local, e a instalação de 250 MW em Shandong, na China, voltada para integração de energia solar e eólica. Ambos os projetos reduziram picos de demanda e aumentaram a segurança energética. Esses exemplos inspiram o Brasil a criar modelos de leilão e políticas públicas voltadas ao armazenamento.
Léo Fornazieri: E no Brasil, onde já existem projetos de armazenamento em andamento?
Dra. Marina:Já vemos avanços concretos. Há projetos-piloto em estados como São Paulo e Pernambuco, com baterias na faixa de 5 MW a 10 MW, conectadas à rede de distribuição para testes regulatórios e operacionais. No Ceará, há também um projeto em estudo de 30 MW integrado a um parque solar. São passos importantes rumo à consolidação desse mercado.
Léo Fornazieri: O que falta para o Brasil acelerar nesse segmento?
Dra. Marina: Falta segurança jurídica e clareza regulatória. A ANEEL vem avançando com projetos experimentais e consultas públicas, mas ainda é necessário definir regras para comercialização, remuneração e participação nos leilões. Um marco regulatório claro atrairá capital e permitirá que os investidores dimensionem o risco com mais precisão.
Léo Fornazieri: Como o armazenamento pode impactar os leilões de energia organizados pelo governo brasileiro?
Dra. Marina: O impacto será enorme. O governo planeja incluir o armazenamento como requisito ou diferencial competitivo em leilões futuros. Isso significa que projetos híbridos — solar com bateria, por exemplo — terão prioridade por oferecer energia firme. No entanto, as empresas precisam ficar atentas aos editais e cláusulas contratuais, pois a responsabilidade por desempenho e entrega será compartilhada.
Léo Fornazieri: Que cuidados jurídicos as empresas devem ter ao participar desses leilões?
Dra. Marina: É essencial garantir que os contratos contemplem responsabilidades claras entre geradores, operadores e fornecedores de tecnologia. Também é importante alinhar a modelagem de negócios à regulação vigente, evitando riscos de penalidades por descumprimento. Um contrato bem estruturado é o alicerce de um projeto de armazenamento bem-sucedido.
Léo Fornazieri: Quais oportunidades esse mercado abre para investidores e integradores brasileiros?
Dra. Marina:O armazenamento cria novas linhas de receita — desde serviços de capacidade até arbitragem de energia e estabilidade da rede. Integradores podem expandir sua atuação com projetos híbridos, enquanto investidores encontram retornos interessantes em infraestrutura moderna e resiliente. É uma fronteira que vai gerar empregos e inovação no setor elétrico.
Léo Fornazieri: E o consumidor final também pode ser beneficiado?
Dra. Marina: Sim. As baterias já estão começando a ser incorporadas a sistemas de geração distribuída, especialmente em empreendimentos comerciais e industriais. Isso reduz custos com demanda de ponta e aumenta a autonomia energética. Em médio prazo, veremos condomínios e empresas compartilhando energia armazenada, num modelo mais descentralizado e eficiente.
Léo Fornazieri: Como o INEL e outras entidades do setor podem contribuir para esse avanço?
Dra. Marina: O papel das entidades é essencial. O INEL tem atuado na discussão regulatória e na conscientização sobre os benefícios do armazenamento. A articulação entre associações, governo e investidores é o que vai permitir que o Brasil transforme essa tendência global em vantagem competitiva nacional.
Léo Fornazieri: Quais são os próximos passos da Dra. Marina nesse tema?
Dra. Marina: Continuarei atuando na estruturação jurídica de projetos que envolvem armazenamento e geração distribuída, acompanhando os novos leilões e ajudando empresas a se prepararem para as oportunidades que virão. Como membro do INEL, quero contribuir para a construção de uma regulação sólida e para a capacitação de profissionais que farão parte dessa nova era da energia limpa no Brasil.
Conclusão e Referências
O armazenamento de energia já deixou de ser apenas uma tendência — é o próximo passo estratégico para o setor elétrico brasileiro. A Dra. Marina Meyer segue comprometida em traduzir o avanço tecnológico em segurança jurídica, atuando junto a empresas, investidores e associações como o INEL. O futuro da energia passa por quem entende que inovação e regulação precisam caminhar juntas.
Com o propósito de compartilhar conhecimento, a Dra. Marina faz questão de compartilhar algumas referências que nortearam essa entrevista, para que nossa audiência possa se aprofundar no tema:
Agência Internacional de Energia (IEA) – Global Energy Storage Database 2024
U.S. Department of Energy – California Independent System Operator (CAISO) Battery Projects Overview, 2024
National Energy Administration of China – Energy Storage Pilot Projects Report, 2023
ANEEL – Chamadas Públicas de Projetos de Armazenamento de Energia no Brasil (CP 039/2023 e CP 041/2024)
INEL – Relatório Técnico sobre Armazenamento e Geração Distribuída no Brasil, 2024
Entrevista realizada em 08/11/2025. A opinião do entrevistado não expressa necessariamente o posicionamento dos profissionais ou do Grupo SNW. Todos os direitos reservados.






Comentários